O ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, culpou a imprensa estrangeira pela onda de protestos que atinge a Líbia há duas semanas e diz que o exterior enviou o “diabo” para semear o caos no país. Ele também afirmou que não irá renunciar.
- A imprensa estrangeira tenta manchar a nossa reputação. Eles enviaram o diabo para a Líbia. São uns ratos, cachorros, que tentam tirar nossa glória.
Gaddafi, há mais de quatro décadas no poder, falou em tom desafiador e deixou claro em seu discurso que não cederá a pressões que vem recebendo de dentro e de fora do país para que renuncie ao cargo.
- Não vou deixar o meu país. Lutarei até a última gota de meu sangue. Vou morrer aqui como um mártir.
Seu discurso, proferido à televisão estatal da Líbia, nesta terça-feira (22), durou mais de uma hora. E sinalizou ele endurecerá ainda mais a repressão contra os manifestantes.
A Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH) informou nesta segunda-feira (21) que os protestos iniciados na semana passada no país deixaram pelo menos 300 mortos e, segundo a ONG, ainda não há condições de oferecer números atualizados. Mas há relatos de que as vítimas fatais já pasam de 400 pessoas.
A ONG denunciou nessa terça-feira que se instalou em Trípoli um necrotério que poderia conter até 450 vítimas da repressão do regime líbio.
Recado para os pais e ameaça aos opositores
Ele disse ainda que não culpa os jovens que estão envolvidos nas manifestações, dizendo que foram influenciados pelo o que aconteceu na Tunísia - onde o presidente Ben Ali, 23 anos de poder, caiu após uma intensa pressão popular e internacional.
O ditador deixou também um aviso ameaçador para aqueles que “desafiarem a ordem” e colaborarem com "os estrangeiros", ameaçando executá-los.
- Os manifestantes armados serão passíveis de pena de morte.
Gaddafi pede para os pais dos jovens manifestantes que “mostrem a eles quem é a real autoridade”, dizendo saber o que é uma verdadeira revolução popular.
-Eu vou mostrar o que é uma revolução popular. Ela se faz com segurança, com controle e com comitês [de defesa].
O líbio pede que esses grupos listem seus projetos e objetivos e que sejam pautados pela disciplina, sem proteger “gangues de criminosos”.
Em tom de voz firme, o ditador disse que entrou na cidade de Benghazi para libertá-los e que os protestos foram ordenados por estrangeiros e uma "minoria".
- A Líbia e África não vai desistir de sua glória. Nós derrotamos superpotências [Estados Unidos e Reino Unido] e vamos continuar aqui, desafiador.
"População de Benghazi, salvem-se"
De olho no epicentro das revoltas na cidade de Benghazi, o ditador classifica como uma “vergonha” a atitude dos opositores e faz uma perigosa promessa à cidade, prometendo usar a violência na repressão.
- População de Benghazi, salvem-se. Vergonha de vocês. Armas serão estregues agora para as autoridades.
Na primeira meia hora do pronunciamento, ele lembrou que a Líbia libertou Benghazi do domínio americano e britânico, exaltando o caráter libertador de seu governo, além de insinuar a ingratidão da população da cidade.
- Nós deixamos o poder para o povo da líbia desde 1970, junto com os outros três oficiais, nós deixamos a autoridade para o povo. O que quer que tenha sido feito foi em benefício do povo líbio.
Atingindo quase uma hora de discurso, Gaddafi pediu para que o comércio e serviços em todos o país continuem abertos para não “afundar o país”.
Aparição anterior foi rápida
Antes, o coronel Gaddafi fez apenas uma breve aparição pública na madrugada desta terça-feira (22) para desmentir os boatos de sua fuga para a Venezuela. Rapidamente, em apenas 40 segundos, o ditador afirmou que continua na Líbia.
- Eu estou em Trípoli, não na Venezuela. Não acredite nesses cachorros da imprensa.
Gaddafi disse ainda que gostaria de negociar com os jovens que protestam na praça Verde. O local também é o reduto de partidários do regime que, da mesma forma que a oposição, têm saído às ruas em apoio ao líder líbio, há 42 anos no poder.
Na noite deste domingo (20), Saif al Islam, filho de Gaddafi, fez um discurso para alertar sobre a possibilidade de um banho de sangue, caso os protestos continuassem, e prometeu reformas.
Para Seif, o número de mortos é exagerado e a Líbia está à beira da guerra civil. Para o filho do ditador, a violência é resultado de um "complô estrangeiro".
Homens em helicópteros atiraram contra população na capital, dizem testemunhas
Como a Líbia não permite o trabalho livre da imprensa, as testemunhas são uma das poucas fontes de informação sobre o que ocorre no país do norte da África. Jornais e TVs relataram que pessoas em helicópterosatiravam em todo mundo na capital do país, Trípoli.
Em Benghazi, um centro de resistência ao regime, as pessoas pararam de protestar com medo dos ataques aéreos de acordo com outros relatos.
No entanto, o coronel Gaddafi talvez não esteja tão forte quanto tenha tentado mostrar em seu discurso. Dissidentes e militares que desertaram afirmaram que há um racha nas Forças Armadas. O jornal americano The New York Times informou que, na parte leste do país, o Exército se juntou ao povo na revolta.
Enquanto isso, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) discute em Nova York alguma possível ação contra o país.
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